Chico Buarque e Prêmio Camões
por Cairo Trindade, 21-05-2019, atualizado 08-01-2023
Chico Buarque é um patrimônio cultural do Brasil.
Desde garoto, quando ouvi "A banda" virei seu fã.
Nunca deixei de curtir rock n'roll e Beatles.
Mas a MPB continuou ocupando um lugar cativo em meu coração.
Com o compositor Chico Buarque de Hollanda liderando um time de muitos craques.
Quando vim morar no Rio, uma das primeiras vezes em que fui ao teatro, assisti "Roda viva", do dramaturgo Chico Buarque.
Fiquei impressionado com o texto revolucionário da peça.
Anos depois, fui ver "Gota d'água", uma adaptação feita por Oduvaldo Viana Filho com ele, do clássico grego "Medeia", e saí chapado.
As canções de Chico feitas para o espetáculo são perfeitas, como a música que ele fez para "Morte e vida severina", de João Cabral.
"Calabar" e "Ópera do malandro", também são seus espetáculos musicais já clássicos.
Para completar, em 1991, o escritor Chico Buarque lançou a novela "Estorvo", seu primeiro livro para adultos, e ganhou, em 92, o Prêmio Jabuti.
Uma história confessional estranha, com uma narrativa diferente do que se fazia à época.
Em 95, escreveu "Benjamin", mantendo o mesmo estilo delirante de narrativa, mas na terceira pessoa, em cima de uma história muito original contada cinematograficamente.
Com "Budapeste", em 2003, ele joga com a metalinguagem, contando as desventuras de um ghostwriter, e muda o estilo de sua narrativa.
Em 2005, com "Leite derramado", faz um balanço de nossa História, desde o Império até os dias atuais, mostrando a degradação do país, através de um personagem, já em estado terminal, que vivenciou parte dessa história.
Gostei de todos.
Agora, depois de tanto tempo, ele conquista um prêmio internacional — o Prêmio Camões —, acredito que pelo conjunto da obra.
E, me parece, nem foram cogitados outros candidatos.
Então, não há dúvida, Chico mereceu ganhar.
Mas creio que ele deveria doar a grana para alguma instituição de caridade, para alguma ONG, para o Retiro dos Artistas.
Ou para os três.
Ou deveria criar uma Fundação.
Ele provavelmente não precisa destes 100 mil euros.
Pois é, meus amigos, não há prêmios para principiantes, às vezes artistas maravilhosos e sem oportunidades no mundo.
A vida é assim porque o Sistema é assim:
muito pra poucos
pouco pra muitos
nada pros outros
e que se explodam
todas & todos!
@cairodeassistrindade
Vencedores do Prêmio Camões:
1989 - Miguel Torga, Portugal
1990 - João Cabral de Melo Neto, Brasil
1991 - José Craveirinha, Moçambique
1992 - Vergílio Ferreira, Portugal
1993 - Rachel de Queiroz, Brasil
1994 - Jorge Amado, Brasil
1995 - José Saramago, Portugal
1996 - Eduardo Lourenço, Portugal
1997 - Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela, Angola
1998 - Antonio Cândido de Melo e Sousa, Brasil
1999 - Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
2000 - Autran Dourado, Brasil
2001 - Eugênio de Andrade, Portugal
2002 - Maria Velho da Costa, Portugal
2003 - Rubem Fonseca, Brasil
2004 - Agustina Bessa-Luís, Portugal
2005 - Lygia Fagundes Telles, Brasil
2006 - José Luandino Vieira, Angola
2007 - António Lobo Antunes, Portugal
2008 - João Ubaldo Ribeiro, Brasil
2009 - Armênio Vieira, Cabo Verde
2010 - Ferreira Gullar, Brasil
2011 - Manuel António Pina, Portugal
2012 - Dalton Trevisan, Brasil
2013 - Mia Couto, Moçambique
2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil
2015 - Hélia Correia, Portugal
2016 - Raduan Nassar, Brasil
2017 - Manuel Alegre, Portugal
2018 - Germano Almeida, Cabo Verde
2019 - Chico Buarque, Brasil
2020 - Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Portugal
2021 - Paulina Chiziane, Moçambique
2022 - Silviano Santiago, Brasil
2023 -
2024 -
2025 -