Ficção ou Fricção?
por Cairo Trindade dia 05-02-2019, atualizado 08-01-2023
Se "o poeta é um fingidor", como disse Fernando Pessoa no poema Autopsicografia, todo escritor é um grande mentiroso.
Senão, que vá escrever artigos de jornal, biografia, memória, ou ata de reunião de condomínio.
Então, por mais que você queira ser fiel à realidade, exercite ao máximo sua capacidade de recriá-la, inventando sempre novas possibilidades.
Diz-se que Romeu e Julieta existiram realmente e Shakespeare transformou o caso em Literatura.
Que Don Quixote era uma história de cavalaria contada boca a boca e Cervantes escreveu o romance baseado nela.
Claro que ambos deram o toque mágico que fez com que fatos da vida real virassem obras de arte da literatura.
Provavelmente criando em cima dos mesmos detalhes fantásticos das respectivas tramas e peripécias.
Recentemente, no Brasil, Rubem Fonseca vem escrevendo contos baseados em fatos reais ocorridos no Rio.
Mas sempre com um tempero próprio, com sua capacidade de carregar nas tintas.
Muitos escritores fazem isso.
E há os que, não satisfeitos com a verossimilhança, inventam histórias e tentam dar um caráter de veracidade a elas, usando até recursos de documentário e supostos registros históricos.
Na ficção, realidade e fantasia se confundem.
O importante é fazer o leitor acreditar que aquilo que lê o fará vivenciar verdadeira e plenamente o instante da leitura.
E mais: experimentar uma transformação em sua vida.
@cairodeassistrindade